quarta-feira, 14 de março de 2012

Liber Mortis 1

Um dia, eu acordei... e vi que tudo estava diferente. Eu me vi num lugar estranho, com seres completamente diferentes de mim, ou de qualquer outro que vivesse em meu mundo. À primeira tentativa de comunicação, vi que nossos hábitos eram muito semelhantes aos daqueles seres, e que os sentimentos escondidos que eles carregavam em si poderiam torná-los perigosos à minha sobrevivência.

Um planeta tão belo... tão sofisticado... mas com seres que não o mereciam; muito pelo contrário, mereciam-se uns aos outros pelos seus atos que, à primeira vista, pareciam uniformes e sincronizados, mas, por detrás, eram capazes de uma destruição tamanha e sem volta. Aos poucos eles eram forçados, pelo próprio planeta, a exterminarem uns aos outros. Sem perceber o que se passava, eles obedeciam àquelas ordens subliminares que lhes eram impostas, e nem sequer tinham chance de decidir se estavam fazendo a coisa certa ou não. Apenas faziam. Eu mesmo vi vários deles se degladiando. Vi vários deles se suicidando. Vi brigas injustas: três, quatro, ou mais, contra apenas um, e a morte deste já estava anunciada.

Às vezes, eu me perguntava o porquê daquilo. Como podia ser tão diferente? Ou a indiferença deles é que me tornava assim? E por que agiam dessa forma, sem noção nenhuma das consequências? Quanto mais eu me perguntava, mais dúvidas me surgiam... e mais amarguras me eram expostas.

A cada dia, eu me sentia mais sufocado, como se um pedaço de mim tivesse sido cortado e queimado, mas comigo sentindo isso. Foi quando eu percebi que já fazia parte "deles". Eu havia me tornado um deles, embora minha mente lutasse contra isso. Então tomei a decisão: subi no mais alto monte daquele planeta, muito maior do que qualquer um do nosso. E gritei. De dor e de medo, talvez. Então dei uma última olhada naquele lugar, em volta de mim e, sem pensar duas vezes, eu pulei daquele monte. Finalmente estava sentindo a sensação de liberdade de novo... e como aquilo era bom... nada mais atrapalhava a minha mente, eu estava me sentindo feliz. Eu caía a uma velocidade incrível e via tudo aquilo pela última vez, não fazendo questão de uma segunda olhada. O chão se aproximou cada vez mais... cada vez mais, quando de repente vi que começava a voar. Não conseguia controlar minha direção, meu rumo, mas eu estava voando e fui levado para longe de lá, finalmente para o mundo de onde eu vim. Ou para qualquer outro que não fosse mais aquele.

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